O Liedkreis é um evento de amigos, onde aspirantes a compositores
se reúnem refugiado-se numa casa de campo remota durante uma semana. Longe da
vida cotidiana, criam canções novas, histórias e outras, inspiradas pela união
e pela busca compartilhada com o que os toca.
Ich hab gehört - Liedkreis
Edvard Munch - Fertility
A pintura Fertilidade de Edvard Munch retrata um homem e uma
mulher num campo verde, rodeados por natureza vibrante, sugerindo o ciclo da
vida. A mulher, sentada, parece grávida, simbolizando a criação e o nascimento.
O homem, em pé, observa o horizonte, refletindo talvez sobre o futuro. A
paisagem natural, com árvores em flor e cores suaves, evoca serenidade e
esperança. A obra transmite uma forte ligação entre o humano e a terra,
celebrando a continuidade da vida.
do ChatGPT
Eugénio de Andrade
Faz uma chave, mesmo pequena,
entra na casa.
Consente na doçura, tem dó
da matéria dos sonhos e das aves.
Invoca o fogo, a claridade, a música
dos flancos.
Não digas pedra, diz janela.
Não sejas como a sombra.
Diz homem, diz criança, diz estrela.
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.
Volta a dizer: homem, mulher, criança.
Onde a beleza é mais nova.
David Mourão-Ferreira - Escolha
Entre
o vento e a navalha escolho o vento
Entre
verde e vermelho aquele azul
que
até na morte servirá de espelho
ao
vento que por dentro me deslumbra.
Entre
vento e cipreste escolho o Sol
Entre
as mãos que se dão a que se oculta
Entre
o que nunca soube o que já sobra
Entre
a relva um milímetro de bruma.
Por cada passo para a frente fica sempre alguma coisa para trás. O novo deslumbra, o que passou torna-se saudade. De uma maneira ou de outra crescemos na sabedoria, no espanto e na dúvida. Deste poema destaco o último verso, que também é meu.
Mimi Fariña on her would-be 80th birthday
I'd love to honour and remember Mimi Fariña on her would-be 80th birthday. She was a beautiful person and a fresh musician, whose gracious, serene conversation rests on my conscience like a tattoo. As an example, we need a world of Mimis. The photo was taken on the day of her then husband's book signing in Carmel, CA. Richard Fariña would be dead by 7 p.m. that evening after a stupid motorcycle accident. More than any photo I've seen, this captures Mimi's intense goodness and perhaps her noble sadness. Long live Bread and Roses.
Autumn Sonata, 1978
O filme evidencia o reencontro entre Charlotte Andergast
(Ingrid Bergman), uma célebre pianista, e as suas duas filhas, Eva (Liv
Ullmann) e Helena (Lena Nyman). Após anos de separação, Charlotte decidiu fazer
uma visita à sua filha mais velha, Eva, e ao genro Viktor (Halvar Björk). Para
a surpresa da pianista, ela encontra a filha mais nova sob os cuidados de Eva.
Helena, deficiente física e mental, havia sido internada pela mãe em uma
instituição de onde foi resgatada por Eva. O encontro entre Eva e Charlotte
trará à tona diversas mágoas do passado. Eva, ferida pela negligência e pela
indiferença maternal, confrontará a mãe, alvo do seu mais puro amor e também do
seu rancor, num longo e doloroso desabafo.
Grant Wood - Appraisal
Bob Dylan - Buckets of Rain cover by Toni Lindgren
Buckets of rain, buckets of tears
Got all them buckets comin' out of my
ears
Buckets of moonbeams in my hand
You got all the love
Honey baby, I can stand.
I've been meek and hard like an oak
I've seen pretty people disappear
like smoke
Friends will arrive, friends will
disappear
If you want me
Honey baby, I'll be here.
I like your smile
And your fingertips
Like the way that you move your hips
I like the cool way you look at me
Everything about you is bringing me
misery.
Little red wagon, little red bike
I ain't no monkey but I know what I
like
I like the way you love me strong and
slow
I'm takin' you with me
Honey baby, when I go.
Life is sad, life is a bust
All ya can do is do what you must
You do what you must do and ya do it
well
I'll do it for you
Honey baby, can't you tell?
Buckets of Rain was the
last but one song to be written for Blood on the Tracks and appears last on the
album. An amusing and touching
little love song? No. It’s better seen as an unintentionally, and for the most
part damning, indictment of the narrator out of his own mouth. Despite what he
says, there’s not any real love in it. Instead, the narrator merely attempts to
convince the woman, and perhaps himself, that he’s acting to further their
relationship, while coming across as deeply flawed and untrustworthy. In this
way the song provides a realistic portrayal of human psychology. What saves him
from total condemnation, perhaps, is our recognition that in condemning him,
we’d be condemning ourselves.
Ana Merino - Carta de um náufrago
Com a permissão da neve
caminharei devagar.
Alguém haverá à espera junto do lume
e eu, cega do frio,
farei breves paragens,
sacudirei o guarda-chuva e começarei de novo.
O único segredo é não sentir-se
imensamente cheio de verdades.
Jamais aceitar os convites
da neblina
ao fazer ninho com os seus disfarces
de paisagem feliz, de grandes sonhos.
Alguém haverá que diga, perdeu-se,
alguém sairá a buscar-me
e levará o calor de uma garrafa
onde poderei mandar-te esta mensagem.
Tradução de A.M.
Ana Merino - Adoração nocturna
Que
te devolvam o tempo das segundas
e as
façam domingos na tua agenda
para
que não te pese tanto a semana
e
possas sentir os dentes das ruas
mordiscar
ternamente
o
último trecho do domingo.
Que
te devolvam as horas das segundas
e as
possas guardar entre lençóis
para
que a cidade te adormeça no colo
e os
que te olham se encham de ti.
Que
te tragam o ritmo dos sonhos
e os
possas bailar,
que
guarde algum segredo
a
luz do teu abraço.
Que
as segundas aprendam
de
cor o teu corpo.
Que
não falte nada em teu mundo
porque
o deus da noite
descansou
à segunda
para
te esperar.
Para muitos, é um sentimento passageiro, que vai embora nas
primeiras horas do dia. Para outros, é um longo sofrimento que mistura medo e
apreensão – e dá origem ao que é popularmente conhecido como 'síndrome de
segunda-feira'.
Ana Merino - Vida de lagartixa
Eu
que quis ser um animal doméstico
com
vistas de praia,
sou
uma lagartixa e habito nas fendas
de
uma rocha vulcânica em pleno deserto.
Às
vezes corta-me alguém a ponta da cauda
e
ali ficam os meus sonhos mexendo-se nervosos
a
pensar que estão vivos.
Eu
sou como as horas de domingo perdidas,
engalho
o descanso metido entre lençóis
e
espero que amanheçam os dias de cote.
A
vida é um enigma de que decifro só
um
trecho de esperança
olho-o
de lado e, jamais me detenho
porque
temo o assédio das fisgas
assim
como a sombra dum gato.
Fernando Tordo - Cavalo À Solta
Minha
laranja amarga e doce
Meu poema feito de gomos de saudade
Minha pena pesada e leve secreta e pura
Minha passagem para o breve
Breve instante da loucura.
Minha
ousadia, meu galope, minha rédea,
Meu potro doido, minha chama,
Minha réstia de luz intensa, de voz aberta
Minha denúncia do que pensa
Do que sente a gente certa.
Em
ti respiro, em ti eu provo
Por ti consigo esta força que de novo
Em ti persigo, em ti percorro
Cavalo à solta pela margem do teu corpo
Minha alegria, minha amargura,
Minha coragem de correr contra a ternura.
Minha
laranja amarga e doce
Minha espada, poema feito de dois gumes
Tudo ou nada
Por ti renego, por ti aceito
Este corcel que não sossego
À desfilada no meu peito.
Por
isso digo canção castigo
Amêndoa, travo, corpo, alma
Amante, amigo
Por isso canto, por isso digo
Alpendre, casa, cama, arca do meu trigo.
Minha
alegria, minha amargura
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha ousadia, minha aventura
Minha coragem de correr contra a ternura.
Minha
alegria, minha amargura
Minha coragem de correr contra a ternura
Minha ousadia, minha aventura
Minha coragem de correr contra a ternura.
Minha
alegria, minha aventura
Minha coragem de correr contra a ternura.
A figura do 'cavalo à solta' é central na canção,
simbolizando a liberdade e a busca incessante por algo mais profundo e
significativo. O cavalo, com seu galope e sua energia indomável, representa a
força interior e a coragem de enfrentar os desafios da vida. A letra menciona
'correr contra a ternura', indicando uma luta interna entre a necessidade de
ser vulnerável e a vontade de ser forte e independente. Essa tensão é uma parte
essencial da experiência humana, onde a busca por equilíbrio entre emoções opostas
é constante.
Évariste Carpentier - L'amour est dans l'air
O quadro, L’amour est dans l’air, de Évariste Carpentier
retrata uma cena romântica ao ar livre, com um jovem casal imerso num momento
de ternura e cumplicidade. A luz suave e o ambiente campestre reforçam a
atmosfera idílica e sonhadora. As expressões dos personagens revelam inocência
e encantamento amoroso. Carpentier, fiel ao naturalismo, capta a beleza do
instante com delicadeza. A composição transmite leveza, sugerindo que o amor
paira literalmente no ar, envolto em serenidade e juventude.
Interpretação do ChatGPT
Cecilia Casanova - Destino
Ni
el pájaro pese a sus alas
puede
volar
más
allá de lo escrito
Nem
o pássaro apesar das asas
consegue
voar
para
além do escrito
Tradução A. M.
Ana Blandiana - Sem saber
Evidentemente
não sou
como
esses fiandeiros de palavras
que
fazem as roupas e as corridas de agulha,
as
glórias, os orgulhos,
apesar
de me mover no meio deles
e
eles me olharem as palavras como se fossem malhas
– "Que bem posta que vais!", dizem-me,
– "Que bem que te fica o poema!"
sem
saber
que
os poemas não são o meu vestido,
mas
o esqueleto
extraído
com dor
e
posto por cima da carne como uma carapaça,
tal
como as tartarugas,
que
assim sobrevivem
séculos
longos
e infelizes.
Kroniek in Muziek: La Folia
Folia é uma melodia e dança surgida no século XV cujo esquema
harmônico-melódico foi, desde então, utilizado em centenas de variações feitas
por mais 150 compositores, de Lully a Sergei Rachmaninov. É um dos mais antigos
e recorrentes temas musicais europeus.
Jacob Iglesias - Mal-entendido
Não
existe aquilo que ambicionavas.
Deveras
só a ânsia não apaziguada
de o
buscar, e tocar e jamais possuir.
Nunca
viverás uma dessas vidas
que
só te esforçaste a imaginar,
apesar
de as recordares ao pormenor
como
se as tivesses vivido.
Assume
o mal-entendido, entrincheira-te
nos
prazeres que te deste
para
tornar a espera suportável.
E
agradece, sem euforia, as migalhas
de
alegria que encontras em cada dia.
Tela: Viktor Oliva - The Absinthe drinker
Gsús Bonilla - Revolucionários
Por
falar em vermelhos – deduzo –
que
lhes abriram o peito
e lhes
arrancaram o coração,
e mesmo assim:
Viste?
Que filhos da puta!
Continuaram
a bulhar.
Paul Gauguin - First Flowers of Brittany
Ibne Amar - Céu pluvioso
As
nuvens são tão espessas que se diria formarem,
para
cá da abóbada celeste, fumo de madeira verde.
A
chuva fina é como limalha de prata,
derramada
sobre um solo de âmbar.
Por
um momento o sol brilha
como
escrava que se mostra ao comprador.
José Cereijo - Pensa no que darias
Pensa
no que darias
quando
se estiver a acabar
o
tempo, e ficarem só as borras
amargas
no copo,
destas
horas, destes dias,
que
agora vês passar, indiferente.
Pensa,
e
trata de viver tal como então
hás-de
querer ter vivido;
que
o amargo seja, se tiver de ser,
copo,
não a boca.
Nicolas Poussin - The Inspiration of the Poet (L'ispirazione del poeta)
The painting depicts
Apollo, accompanied by infant Cupids and by one of the Muses, about to crown a
poet who is writing under his inspiration. It is not known to what the painting
alludes, nor what is its exact subject. Perhaps the latter was always indefinite,
because the picture appears in Mazarin's inventory of 1653 as Apollo with a
Muse and a Poet crowned with Laurels. Its warm colouring reveals the
Titianesque strain in Poussin's work; it must have been painted during his
first Roman period, at the end of the 1620s. Some critics put forward the
hypothesis that the model for the Muse, often recognizable in other works of
this period by Poussin, may have been Anna Dughet, whom he married in 1630 at
San Lorenzo in Lucina (Rome).
Cantigas de Santa Maria - Madre de Deus (Cantiga 422)
Madre de Déus, óra | por nós téu Fill' essa hóra.
U
verrá na carne | que quis fillar de ti, Madre,
joïgá-lo
mundo | cono poder de séu Padre.
Madre
de Déus, óra | por nós téu Fill' essa hóra.
E en
aquel día, | quand' ele for mais irado,
fais-lle
tu emente | com' en ti foi enserrado.
Madre
de Déus, óra | por nós téu Fill' essa hóra.
U
verás dos santos | as compannas espantadas,
móstra-ll'
as tas tetas | santas que houv' el mamadas.
Madre
de Déus, óra | por nós téu Fill' essa hóra.
O povo pede sempre à Virgem mesmo antes de pedir a Deus. Talvez porque o Deus em que acredita está longe ou se zanga. Este texto do tempo de Alfonso X of Castile, El Sabio (1221–1284) dá que pensar. Repare-se na última estrofe "móstra-ll' as tas tetas, santas que houv' el mamadas". Muito belo.
Irene Albert - O pesar
Em
verdade, aquela dor era um processo. Dizê-lo
assim
dava-me dignidade ao pranto.
Pus
luto rigoroso, além da insónia. Disse muita vez
que
queria morrer.
Com
o tempo fui serenando, permitindo-me
aqui
e ali um tímido sorriso.
Comi
doces e vesti-me de cinza.
Todos
aplaudiram o ritual. Todos perguntaram.
O
que não entendo é o escândalo, é claro
que
a parte mais dura foi matá-lo.
Gina Saraceni
Devolveu
ao
mar as pedras,
guardadas
anos e anos
em
frascos de marmelada.
No
lugar delas
foi
o vazio
o
que ficou.
Tal
como um abandono,
ainda dura.
Giovanni Francesco Romanelli - Chronos and his child
Chronos, better known as Father Time, is the personification and keeper of time. He rules over the Temporal Plane where he controls and manipulates time for the entire Multiverse. One of his main jobs make sure time moves forward at a constant rate. This painting by Giovanni Francesco Romanelli can be seen at the National Museum in Warsaw, a 17th-century depiction of Titan Cronus wielding a harvesting scythe.
The Full English - Man in the Moon
When a bumper is filled, it is
vexing, no doubt,
To find when you rise that the wine
has run out;
And sure it's an equally unpleasant
thing
To be asked for a song when you've
naught left to sing.
I could sing something old, if an old
one would do,
But the world it is craving to have
something new.
But what to select for the words or
the tune?
I, in fact, know no more than the Man
in the Moon.
The Man in the Moon a new light on us throws,
He's a man we all talk of but nobody knows.
And though a high subject, I'm getting in tune,
I'll just sing a song for the Man in the Moon.
Tis said that some people are
moonstruck, we find,
But the Man in the Moon must be out
of his mind.
But it can't be for love for he's
quite on his own,
No ladies to meet him by moonlight
alone.
It can't be ambition, for rivals he's
none,
At least he is only eclipsed by the
sun,
But when drinking, I say, he is
seldom surpassed,
For he always looks best when he's
seen through a glass.
The Man in the Moon he must lead a
queer life,
With no one around him, not even a
wife,
No friends to console him, no
children to kiss,
No chance of his joining a party like
this.
But he's used to high life, for each
all circles agree,
That none move in such a high circle
as he,
And though nobles go up in their
royal balloon,
They're not introduced to the Man in
the Moon.
A veritable English folk supergroup - Seth Lakeman, Martin Simpson, Fay Hield, Nancy Kerr, Sam Sweeney, Rob Harbron and Ben Nicholls perform new music and arrangements inspired by material Fay Hield has found within the newly launched EFDSS Full English archive (the world's biggest digital archive of English traditional folk music and dance tunes).