Manuel António Pina

A ferida

Real, real, porque me abandonaste?
E, no entanto, às vezes bem preciso
de entregar nas tuas mãos o meu espírito
e que, por um momento, baste

que seja feita a tua vontade
para tudo de novo ter sentido,
não digo a vida, mas ao menos o vivido,
nomes e coisas, livre arbítrio, causalidade.

Oh, juntar os pedaços de todos os livros
e desimaginar o mundo, descriá-lo,
amarrado ao mastro mais altivo
do passado. Mas onde encontrar um passado?


Fugir de nós para encontrar um sentido. Imaginar quem nos ama ou nos amou, para disfarçar a solidão: Deus e os homens. É violento reconhecer que não está ninguém em nenhum tempo. A pintura é de Derek Buckner.

6 comentários:

David disse...

Existe sempre alguém...mas não à nossa maneira, não de acordo com os nossos critérios ou expectativas.
Bom é saber acolher quem vem, sem impor a nossa hospitalidade...

António disse...

Impor? Apenas devemos exigir respeito. Quem vem, nos dias de hoje vem por vir.

Mª Margarida disse...

E essa é a melhor maneira de vir, de estar e de viver.

David disse...

Repito, mais devagar:

Existe sempre alguém...mas não à nossa maneira, não de acordo com os nossos critérios ou expectativas.

Bom é saber acolher quem vem, sem impor a nossa hospitalidade...

Acrescento: quem ama não vem por vir, nem está por estar.

Vem...e isso é o importante.

Saibamos acolher quem vem...

Mª Margarida disse...

Não vale tirar comentários.

Mª Margarida disse...

Então?

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