Antonio Orihuela - O fato novo do Imperador

 


Tenho 31 anos e estou cansado.

Todos os sítios me vão parecendo, finalmente,

igualmente maus.

Todas as pessoas, incluindo as que gostam de mim,

insuportáveis.

Não encontro sentido nem para o que faço

nem para as coisas que deixo por fazer.


Olho para os outros

com a absoluta certeza de quem vê

não semelhantes,

serenos, resignados, envilecidos extraterrestres.

Olho para mim

e sinto-me como se não tivesse outros com quem partilhar.

Para onde quer que eu olhe,

a insuportável mentira que faz ninho, germina, destila

este tempo, este país, este modo de viver

a que chamam

progressista, tolerante, solidário, democrático,

avançado, europeu, e melhor e melhor

que todos os existidos,

que todos os possíveis.


Este modo de viver

onde falta tudo o que foi nomeado.

Que desfez a classe trabalhadora sem uma única bala,

que encarcerou as consciências sem uma única grade,

que me afasta sem um único cassetete,

que me exclui sem um ferro candente,

sem sequer uma estrela amarela na lapela.


Este tempo de fatos novos,

de Imperadores.


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