Ana Paula Inácio - A Senhora Vermeer

 


À senhora Vermeer coube-lhe a sorte

de não caber nos quadros

de Vermeer, seu marido.

Não possuía o traço do anil

ou do ouro

que lhe caíam o regaço.

Como única declaração de posse

das jóias e do marido

que não era jóia nenhuma,

como dizia a criada

que sabia como se cozinhavam as coisas,

à rapariga do brinco

que ele pintou para sua desgraça.

A senhora Vermeer não ficou na História de Arte

só na das histéricas lágrimas

e inúteis posses,

desvairada e borratada

na sua pintura.


      Sra. Ana, pintar a esposa nunca foi dever de conjugalidade.

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