Baralhando
recordações
deparei-me
com a tua.
Não
doía.
Tirei-a
do estojo,
sacudi-lhe
as raízes
ao
vento,
pu-la
a contraluz.
Era
um vidro polido
refletindo
peixes de cores,
uma
flor sem espinhos
que
não ardia.
Atirei-a
contra o muro
e
soou a minha sirene de alarme.
Quem
lhe apagou o lume?
Quem
derrancou o fio
à
minha lança-recordação
que
eu tanto amava?
O poema transforma a memória num baralho simbólico, onde cada
carta revela fragmentos de dor, amor e perda. O ato de "baralhar" sugere tanto
tentativa de ordem quanto inevitável desordem emocional. As lembranças surgem
como forças vivas que moldam a identidade, revelando um eu que negocia
constantemente com seu passado. O poema explora a fragilidade humana e a
persistência da memória como espaço de resistência, reconstrução e
sobrevivência afetiva.

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