Angélica Morales - O ângulo mais escuro da noite

 


Às vezes eu, 20 anos,

o espelho limpo,

meus olhos sempre debaixo do poço dos verbos.

Às vezes eu, bebendo pássaros.

(Aos golinhos e no ângulo mais escuro da noite)

Sempre eu e para compensar dividida,

crescendo.

(Menina/ Mulher/ Leopardo/ Bata de trazer por casa/

Pedacinho de papel das formigas)

Às vezes eu, 20, 40 anos,

meus olhos caminhando sem mim numa rua de dois sentidos.

Às vezes eu,

numa curva das minhas fotos.

Aos 50 anos,

fechando os olhos diante do espelho,

abrindo a jaula aos meus pássaros.


      O poema explora a vulnerabilidade humana diante da dor e da ausência. A noite funciona como metáfora de um espaço interno onde emoções intensas se condensam. A voz poética enfrenta silêncios, memórias e feridas que retornam no escuro. Há tensão entre desejo de luz e permanência na sombra, revelando um conflito entre rendição e resistência. O poema enfatiza intimidade, solidão e a procura por sentido no caos emocional.


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