Banda do Casaco - Argila de luz . Ai se a luzia . Salvé maravilha . Natação obrigatória



Argila de Luz

António Avelar Pinto e Nuno Rodrigues


Ela é feita de argila

Feita de pedra

Erva brava

Que mesmo sem água medra

Ela não sabe

Nem do futuro nem do passado

Só sabe o que sente

Pressente o presente cansado


Ela é feita de chuva

Feita de vento

Lua emancipada

Desde o início do tempo


Ela não sabe

Nem do arcanjo nem do diabo

Só sabe o que sente

Pressente o presente adiado


Ela é luz de negro

Luz de luz de luz

Ela é luz que cega

Luz que nos seduz


Ela é feita de verde

Feita de sumo

Maltratada

Ainda linda de aprumo


Ela não sabe

Nem da mentira nem da verdade

Só sabe o que sente

Pressente o presente parado

Ela é luz de negro.


Ai se a Luzia

António Avelar Pinto e Nuno Rodrigues


Ai se a Luzia! Ai se a Luzia!

Ai se a Luzia! Ai se a Luzia!


Ai se a Luzia soubesse que vinhas

Ai como depois tu vieste

Ai mandaria soprar pela rua

Ai três vendavais lá do nordeste.


Ai se a Luzia um dia soubesse

Ai se a Luzia um dia sonhasse

Ai se a Luzia um dia a saber viesse

Melhor seria que um mau caruncho em mim entrasse.


Ai se a Luzia sonhasse a metade

Ai das coisas que nós fizemos

Ai rogaria um livro de pragas

Ai uma antologia dos demos.


Ai se a Luzia contasse os cabelos

Ai que de ti tenho guardados

Ai não chegaria nem a vida inteira

Ai para tê-los todos contados.


Salvé Maravilha

António Avelar Pinto e Nuno Rodrigues


Cai o dia sai da noite cai sopa no mel

Salvé Maravilha coisa linda de alegria

Toca a língua no teu céu

Ensaliva lá em sonhos

Céu-da-boca nem tem dó.


Cai o dia sai da noite sol a sol a sol

Salvé Maravilha vê meus olhos nascer dia

Céu da boca é fronteira

Do que é corpo e é ideia

Céu-da-boca nem tem dó.


Toca a língua no teu céu

Ensaliva lá em sonhos.


Cai o dia sai da noite cai sopa no mel

Salvé Maravilha coisa linda de alegria

Céu-da-boca é fronteira

Do que é corpo e é ideia

Céu-da-boca nem tem dó.


Toca a língua no teu céu

Ensaliva lá em sonhos.


Natação Obrigatória

António Avelar Pinho e Nuno Rodrigues


Viemos do "fundapique"

passámos no "tudasaque"

não há mal que mal nos fique

nem há cu que não dê traque

mal a gente vem ao mundo

logo a gente vai ao fundo.


Andámos no "malsalgado"

brigámos no "daceleste"

e o escorbuto mal curado

com tratamento indigesto

mal a gente vem ao mundo

logo a gente vai ao fundo.


Natação obrigatória

na introdução à instrução primária

natação obrigatória

para a salvação é condição necessária

não há cu que não dê traque

não há cu que não dê traque

mal a gente vem ao mundo

logo a gente vai ao fundo.


Pusemos a cachimónia

em papas de sarrabulho

e quando as noites são de insónia

damos voltas ao entulho

mal a gente vem ao mundo

logo a gente vai ao fundo.


Aprendizes da política

só na tática do "empocha"

vem a tempestade mítica

e a cabeça dá na rocha

mal a gente vem ao mundo

logo a gente vai ao fundo.


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