Poema das coisas belas - António Gedeão

 


As coisas belas,

as que deixam cicatrizes na memória dos homens,

por que motivos serão belas?

E belas, para quê?


Põe-se o Sol porque o seu movimento é relativo.

Derrama cores porque os meus olhos veem.

Mas por que será belo o pôr do sol?

E belo, para quê?


Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,

mas só são coisas quando percebidas,

por que direi das coisas que são belas?

E belas, para quê?


Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas

sem precisarem de ser coisas percebidas,

para quem serão belas essas coisas?

E belas, para quê?


      O poema celebra a beleza quotidiana e simples, valorizando o olhar sensível sobre o mundo comum. O eu lírico exalta a capacidade humana de descobrir encanto nas pequenas coisas — um gesto, um som, uma imagem — revelando que a beleza não reside apenas no extraordinário, mas na forma como percebemos a realidade. A linguagem é clara e musical, aproximando a poesia da ciência, característica de Gedeão, que une racionalidade e emoção. Assim, o poema transmite uma mensagem humanista e otimista: a beleza está em tudo, basta ter olhos para a ver.

      A tela é de Arthur Hacker, Picking Wildflowers.

Sem comentários:

Arquivo do blogue