Susana Araújo - Sobre a recorrência do braço

 


O braço não é hífen, nem metonímia

é uma extremidade do corpo, um membro

extremista com direção. Não é joelho nem perna

não corre, nem pisa mas recorre aqui nestes poemas

O meu braço esquerdo é terrorista: ao invés de se dirigir para fora,

retrai, recua e retrocede para dentro de si próprio. Leva consigo a mão

e os dedos do lado esquerdo, que penetrando a clavícula sob a axila

entram pela pele do meu peito adentro.


Esse braço cruza-se então com o outro (braço

que também recuou e penetrou a carne de

aquele lado). Cá fora já não agarro nada,

sem agência nem determinação, sou o resultado

esperado de uma auto-amputação.


Mas lá dentro estão os dois membros

unidos pelas mãos e pelos quirodálitos

prontos a agarrar o meu pulmão, poderosos

que são, como se de uma bomba

ou de uma borboleta se tratasse.


      Susana Araújo é ensaísta, ficcionista e poeta. Este poema é retirado do livro "Dívida Soberana" e o que comunica não sei bem: a recusa de ser operária do suor no pão para os outros? Faz pela vida como Professora na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.


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