José Ángel Valente - A si dou-lhe uma flor

 


A si dou-lhe uma flor,

se me permite,

um gato, mais um microfone,

um desandador fora de uso,

uma janela airosa.

Agite tudo.

Faça um poema

ou outra coisa qualquer.

Leia-o ao vizinho.

Atire-o feliz  para o lixo.

E bom dia,

não volte nunca mais, dê cumprimentos

a quantos se lembrarem ainda

que vamos apodrecendo de impotência.


      Hoje todos fazem poemas: a Net está cheia de palavras que parecem versos, A Bertrand tem prateleiras cheias livros de poesia, que dizem ser poesia; para encontrar um poema que me toque tenho de abrir dezenas de sites, abrir dezenas de livros. É preciso regressar aos mestres, nestes tempos estranhos. 


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