Kirmen Uribe - Amor secreto



Também eu tive um amor secreto,

aí com sete ou oito anos. Sem ela saber,

já que nunca lhe disse nada.

Um sorriso era a nossa única ponte.


Sonhei com ela há pouco,

grinaldas, cavalos azuis com correias douradas.

Ela puxa-me para um canto e pergunta:

‘Tudo bem contigo, tiveste sorte na vida’?

Respondi que não, creio,

e ela, antes de cair no abismo, disse:

‘Soube sempre que me querias!’


Eu não sei se é permitido voltar atrás,

se podemos escolher de novo

na encruzilhada o caminho que rejeitámos.

Mas é verdade que de vez em quando

o que sentimos no passado torna-se real,

mesmo que seja por um momento.


Uma semana depois do sonho encontrámo-nos na rua:

grinaldas, cavalos azuis de correias douradas.

A conversa não teve

nada a ver com o sonho, como uns anos antes

apenas um sorriso, não lhe disse nada.


      "O primeiro amor não deixa de parte «um único bocadinho de nós». Nenhuma inteligência ou atenção se consegue guardar para observá-lo. Fica tudo ocupado. O primeiro amor ocupa tudo. E inobservável. E difícil sequer refletir sobre ele. O primeiro amor leva tudo e não deixa nada."  Miguel Esteves Cardoso


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