Era
uma fotografia antiga, amarelada, puída
nos
cantos, puída até no nariz e nos bigodes do avô.
Os
três tios estão em fila, uma escadinha,
olhando
um para o outro com o canto dos olhos.
Estão
bravos, estão ali contra a vontade.
As
tias, essas, erguem as testas orgulhosas.
Uma
quer aparecer mais do que a outra.
São
quatro, são feias e se julgam o centro do mundo.
O
meu pai e a minha mãe encolhem-se num canto da foto.
Não
têm nada a dizer, nem precisam: estão em casa.
Por
mais que a companhia desagrade, estão em casa.
Deus
permanece a um canto da sala, onipresente.
Posso
sentir o perfume de Deus na foto que se esfarela.
Meus
cinco irmãos se acotovelam com sorrisos marotos.
Eu ainda não nasci.
Só a ascese nos devolverá o Paraíso perdido, só a Arte pode,
desejando criar o Belo, nos dar momentos de transfiguração, de transcendência
para além desse mundo de sombras e espectros. Assim, para Brandão cada poema é
uma elevação da alma, a sua construção funciona como um exercício de ascese,
de elevação do espírito, uma verdadeira simbiose entre o aperfeiçoamento do
poema e da alma. No poema acima, ele recorda as origens.
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