Podes pôr em prática a tua teoria
de ser discreto sempre (isto é, morrer
sem que ninguém dê por isso - um vento
um tanto tolo que não sabe o que
faz ali, tão bonito, mudando o teu cabelo).
Podes ser como se ninguém te vir
e ninguém virá
nem o frio insuportável
nem o amor para sempre
nem as árvores deitadas, fingindo-se resistentes
a tudo, incluindo o fogo, os dedos e os sonhos
que já só crescem para baixo.
Quero ser discreto para incomodar o mínimo
e para que ninguém mereça
um sonho que não consegue sonhar.
A lembrar "Os Simples" de Guerra Junqueiro. Há tantos homens e mulheres assim. Desejam apenas viver sem sonhar muito, sem heróis nem revoluções. Aceitam a vida como um dom.
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