Rui Costa

 


Podes pôr em prática a tua teoria

de ser discreto sempre (isto é, morrer

sem que ninguém dê por isso - um vento

um tanto tolo que não sabe o que

faz ali, tão bonito, mudando o teu cabelo).

Podes ser como se ninguém te vir

e ninguém virá

nem o frio insuportável

nem o amor para sempre

nem as árvores deitadas, fingindo-se resistentes

a tudo, incluindo o fogo, os dedos e os sonhos

que já só crescem para baixo.

 

Quero ser discreto para incomodar o mínimo

e para que ninguém mereça

um sonho que não consegue sonhar.


      A lembrar "Os Simples" de Guerra Junqueiro. Há tantos homens e mulheres assim. Desejam apenas viver sem sonhar muito, sem heróis nem revoluções. Aceitam a vida como um dom.


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