Jorge de Sena - Epígrafe para a arte de furtar

 


Roubam-me Deus

outros o Diabo

- quem cantarei?

 

roubam-me a Pátria;

e a Humanidade

outros ma roubam

- quem cantarei?

 

sempre há quem roube

quem eu deseje;

e de mim mesmo

todos me roubam

- quem cantarei?

 

roubam-me a voz

quando me calo,

ou o silêncio

mesmo se falo

- aqui d' el rei!


      É estranho, os ladrões querem o mesmo que cada um de nós.


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