Nos fins do outono uma rapariga
deitou fogo
a um trigal. O outono
fora muito seco; o
campo
ardeu como palha.
Depois não sobrou
nada.
Se o atravessávamos, não víamos nada.
Nada havia para
colher, para cheirar.
Os cavalos não compreendem –
Onde está o campo,
parecem dizer.
Como tu ou eu a perguntar
onde está a nossa casa.
Ninguém sabe
responder-lhes.
Não sobra nada;
resta-nos esperar, a bem do lavrador,
que o seguro pague.
É como perder um ano
de vida.
Em que perderias um ano da tua vida?
Mais tarde regressas
ao velho lugar –
só restam cinzas: negrume e vazio.
Pensas: como pude
viver aqui?
Mas na altura era
diferente,
mesmo no último verão. A terra agia
como se nada de mal pudesse acontecer-lhe.
Um único fósforo foi
quanto bastou.
Mas no momento certo – teve de ser no momento certo.
O campo crestado,
seco –
a morte já a postos
por assim dizer.
Terceira parte do poema "Landscape", de Averno (2006), traduzido por Rui Pires Cabral. Há versos que duram para sempre.
1 comentário:
...as imagens são fortissimas.
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