O cardo floresce na claridade do dia.
Na doçura do dia se abre o figo. Eis o país do exterior onde cada coisa é:
trazida à luz
trazida à liberdade da luz
trazida ao espanto da luz
Eis-me vestida de sol e de silêncio.
Gritei para destruir o Minotauro e o palácio. Gritei para destruir a sombra
azul do Minotauro. Porque ele é insaciável. Ele come dia após dia os anos da
nossa vida. Bebe o sacrifício sangrento dos nossos dias. Come o sabor do nosso
pão a alegria do nosso mar. Pode ser que tome a forma de um polvo como nos
vasos de Cnossos. Então dirá que é o abismo do mar e a multiplicidade do real.
Então dirá que é duplo. Que pode tornar-se pedra com a pedra alga com a alga.
Que pode dobrar-se que pode desdobrar-se. Que os seus braços rodeiam. Que é
circular. Mas de súbito verás que é um homem que trás em si próprio a violência
do toiro.
Só poderás ser liberta aqui na manhã
d'Epidauro. Onde o ar toca o teu rosto para te reconhecer e a doçura da luz te
parece imortal. A tua voz subirá sozinha as escadas de pedra pálida. E ao teu
encontro regressará a teoria ordenada das sílabas - portadoras limpas da
serenidade.
in, Geografia
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