Roberto Bolaño
- Acreditas no amor? – perguntou Reiter.
– Não, francamente não – respondeu a rapariga.
– E na honestidade? – perguntou Reiter.
– Uf, menos do que no amor – disse a rapariga.
– Acreditas no pôr-do-sol – continuou Reiter –, nas noites estreladas, nos amanheceres diáfanos?
– Não, não, não – respondeu a rapariga com um gesto de manifesto nojo –, não acredito em nenhuma coisa ridícula.
– Tens razão – disse Reiter. – E nos livros?
– Menos ainda – disse a rapariga –, além disso na minha casa só há livros nazis, política nazi, história nazi, economia nazi, mitologia nazi, poesia nazi, romances nazis, obras de teatro nazis.
– Não fazia ideia de que os nazis tivessem escrito tanto – comentou Reiter.
– Tu, pelo que vejo, tens ideia de muito poucas coisas, Hans – comentou a rapariga –, a não ser de me beijar.
– É verdade – disse Reiter, que estava sempre disposto a admitir a sua ignorância.
in, 2666, obra póstuma do autor chileno.
O saber e o beijo. Ambos são o tesouro.
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