Lorenzo Lotto - A alegoria da virtude e do vicio






Do Irremediável


Devemos viver
a realidade de hoje
de tal forma
que o amanhã
seja a saudade
de algo de bom
que passou.
                  
Que todo o nosso anseio
seja um presente
que, ausente no futuro
nos traga de volta
o tempo
sem o arrependimento
que fica nos frios espaços
que deixamos de preencher,
ou nas horas irrecuperáveis
que esquecemos de viver,
pois há no tempo,
algo de irremediável
no seu eterno passar:
o seu nunca mais voltar.
 

Nelly Todeschini Cantele


Nota: Este quadro de Lorenzo Lotto oferece-nos uma lição sobre o valor das virtudes e dos vícios que convivem dentro do coração humano. Ao centro está representado o tronco da árvore do Paraíso que secou depois do pecado original e que simboliza o eixo da evolução vertical humana, que depende das atitudes do eixo horizontal. Nele, verdeja um rebento.


De um lado está descrito o vício: o deus Pan que toca na floresta melodias profanas na flauta, que tem os olhos no chão porque o vinho acabou - sem reparar que há ainda vasilhas cheias a verter; que tem patas de bode como Satanás e que ataca sexualmente as fêmeas como um animal.


Do outro lado está um menino que simboliza a virtude: (esta deve começar desde tenra idade), na mão tem um compasso, estuda matemática, a ciência que conduz ao conhecimento e à razão.


Todavia, o ser humano precisa de se proteger. Daí os escudos: o superior representa a imagem da deusa Medusa com serpentes na cabeça e um olho mortal que petrifica quem para ela olha. Na lenda de Medusa, o deus Perseu tem a coragem de a enfrentar, pede o espelho a Minerva e vira-o para Medusa. Esta olha-se nesse espelho e vê o seu próprio olhar refletido caindo sobre si própria. É esse auto-conhecimento, essa consciência, que ajuda o homem a reconhecer o mal. O escudo inferior representa um leão que simboliza o poder e a inteligência que nos permitem agir. 

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