Amar é completar-mo-nos. De que vale ser parte pequena se a natureza anseia e exige de nós, em tudo, o todo? É uma pena não nos amarmos.
ET NUNC MANET IN TE
Meu
amor,
a
casa está tão sozinha que
os
pássaros vêm morrer lá dentro.
Nada
mudou, mas falta
a
mão para acariciar o gato
e
acolher a ninhada secreta,
o
sorriso que enchia o tanque
e
fazia crescer a horta.
Já
ninguém apanha as laranjas mais altas
ou
usa a sombra da nogueira.
E
até os ciprestes se tornaram redundantes
ao
ponto de os abatermos:
a
ausência diz-se melhor no esplendor
inútil
das rosas sem esse olhar,
nas
papoilas raras que duram
o
tempo de uma fotografia.
Um
dia, deixaremos também uma casa assim,
casulo
abandonado a sobreviver-nos.
Um
de nós escutará as asas ansiosas
na
chaminé, antes de pousar o livro
e
amparar o último pássaro.
Só
parecerá menos triste
porque
não teremos, então,
nada
mais a perder.
Inês
Dias
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