Pela
estrada plana toc, toc, toc
Guia
o jumentinho uma velhinha errante
Como
vão ligeiros, ambos a reboque,
Antes
que anoiteça, toc, toc, toc
A velhinha atrás, o jumentinho adiante!
Toc,
toc, a velha vai para o moinho,
Tem oitenta anos, bem bonito rol!
E
contudo alegre como um passarinho,
Toc,
toc, e fresca como o branco linho,
De
manhã nas relvas a corar ao sol.
Vai
sem cabeçada, em liberdade franca,
O
jerico ruço duma linda cor;
Nunca
foi ferrado, nunca usou retranca,
Tange-o,
toc, toc, moleirinha branca
Com
o galho verde duma giesta em flor.
Toc,
toc, é tarde, moleirinha santa!
Nascem as estrelas, vivas, em cardume.
Toc,
toc, toc, e quando o galo canta,
Logo
a moleirinha, toc, se levanta,
Pra vestir os netos, pra acender o lume.
Toc,
toc, como o burriquito avança!
Que
prazer d'outrora para os olhos meus!
Minha
avó contou-me quando fui criança,
Que
era assim tal qual a jumentinha mansa
Que adorou nas palhas o menino Deus.
Toc,
toc, é noite... ouvem-se ao longe os sinos,
Moleirinha
branca, branca de luar!...
Toc,
toc, e os astros abrem diamantinos,
Como
estremunhados querubins divinos,
Os olhitos meigos para a ver passar.
Maria de Lourdes Resende, os anos 50, 60 e 70, o Rádio Clube Português, a Emissora Nacional e os míticos Serões Para Trabalhadores.
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