Mônica Salmaso e Rolando Boldrin

 

 


Fruta madura que cai

na árvore deixa o engaço

Eu também quando morrer

quero deixar o que eu faço

Vou deixar minhas modinhas

todas feitas num compasso

P’ra depois da minha morte

os invejosos não dizer que eu fiz fracasso.

 

Vou deixar moda sentida

de amor, de beijos e abraços

Falando da minha vida

vou contar esse pedaço

Já quiseram me matar

por inveja, com balaço

Eu sou que nem boi arisco

não sai do mato p’ra não cair no laço.

 

Eu gosto do mês de agosto

que tem tarde de mormaço

Eu pego a minha viola

e nas moda dou um repasso

O meu pinho é de primeira

não faio os dedo nos traço

Que eu canto em qualquer altura

eu tanto bom

Meu peito não tem cansaço.

 

Meu ranchinho é pequenino

nele não tem muito espaço

As paredes são de taipa

misturada com bagaço

A minha cama é de couro

dos bicho que eu mesmo caço

Rancho puro sertanejo

Mas ele é meu

não tem ferro, não tem aço.

 

      Que bênção ocêis dois, viu! Texto retirado de "Grande Sertão: Veredas", o único romance e a obra-prima de João Guimarães Rosa, de 1956.


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