Fruta madura que cai
na árvore deixa o engaço
Eu também quando morrer
quero deixar o que eu faço
Vou deixar minhas modinhas
todas feitas num compasso
P’ra depois da minha morte
os invejosos não dizer que eu fiz fracasso.
Vou deixar moda sentida
de amor, de beijos e abraços
Falando da minha vida
vou contar esse pedaço
Já quiseram me matar
por inveja, com balaço
Eu sou que nem boi arisco
não sai do mato p’ra não cair no laço.
Eu gosto do mês de agosto
que tem tarde de mormaço
Eu pego a minha viola
e nas moda dou um repasso
O meu pinho é de primeira
não faio os dedo nos traço
Que eu canto em qualquer altura
eu tanto bom
Meu peito não tem cansaço.
Meu ranchinho é pequenino
nele não tem muito espaço
As paredes são de taipa
misturada com bagaço
A minha cama é de couro
dos bicho que eu mesmo caço
Rancho puro sertanejo
Mas ele é meu
não tem ferro, não tem aço.
Que bênção ocêis dois, viu! Texto retirado de "Grande
Sertão: Veredas", o único romance e a obra-prima de João Guimarães Rosa, de
1956.
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