Margareta Ekstrom - De manhã


Quando acordas não sabes ao certo
se já nasceste.
O tecido contra a tua face tem o calor de corpo.
A escuridão escuridão de corpo como no meu ventre:
estavas escondida como se eu trouxesse uma pedra secreta
apertada com força na mão dia após dia
sem mostrar a ninguém.

Do outro lado da fria vidraça
começa o mundo estranho.
A máquina de escrever do pica-pau
envia-te mensagens tão cheias de x's
que nem um espião decifraria.

Encostas a cabeça contra o vidro
escutas também com a testa.
Se ficarmos aqui despontará a lua
mas não sei dizer-te onde.

Os piscos salpicam o choupal vermelho.
Além os bosques serão abatidos.
Porco-espinho e doença
estão entre palavras que desconheces
dormindo sob fundas camadas de futuro.
Os teus pezinhos cabem numa só minha mão.
Se sobrevivermos
serás tu a sustentar-me.

Cautelosa deitas a língua para fora
para provar a existência:
neve ou fogo ?
Ambos queimam.

Em teu sonho giramos num remoinho
e somos aspirados de regresso ao mistério.

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