Joan Margarit - Não deites fora as cartas de amor


Elas não te abandonarão.
Passará o tempo, apagar-se-á o desejo
— essa flecha de sombra —
e os rostos sensuais, inteligentes, belíssimos
ocultar-se-ão em ti, no fundo de um espelho.
Cairão os anos. Cansar-te-ão os livros.
Decairás ainda mais
e perderás até a poesia.
O ruído frio da cidade nos vidros
acabará por ser a tua única música,
e as cartas de amor que tiveres guardado
serão a tua última literatura.

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