Tu própria, que podes ter a noção e ao mesmo tempo
o atrevimento de simplesmente expor
de vez em quando uma opinião
ou um seio: quando começa isso,
e no fundo quando acaba? As mulheres
são feitas de raparigas, aos quarenta
ainda deitam a língua de fora como aos quinze,
ficam cada vez mais jovens,
não sabem não seduzir. Como a poesia:
um gato que prudentemente caminha sobre as teclas
de um piano e olha para trás:
ouviste? viste-me?
Ah, o ar jovem das raparigas de quarenta,
como umas vezes querem, e outras não,
mas afinal sempre, se repararmos bem.
Onde estão os bons velhos tempos? Estão aqui,
esses tempos.
Nuno Júdice traduziu uma
colectânea com o título “Os Hectares da Memória”. Herman de Coninck foi um dos
mais importantes poetas flamengos do pós-guerra, por possuir uma notável
capacidade de apreender do quotidiano aparentemente estéril e banal, instantes
sagazmente luminosos, através do uso de uma linguagem com notável capacidade
discursiva, onde o humor não é o menor dos seus recursos. Coninck morreu
subitamente numa rua de Lisboa, em 1997, a caminho de uma reunião de poetas.
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