E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!...
Que triste não saber florir!
Ter que pôr verso sobre verso, como quem constrói um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!...
Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre bem e é sempre a mesma.
Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira.
E olho para as flores e sorrio...
Não sei se elas me compreendem
Nem se eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao colo pelas Estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos
E não termos sonhos no nosso sono.
in, O Guardador de Rebanhos
Este poema surgiu, hoje, no Exame Final Nacional
de Português. Nele, Caeiro expõe a sua "teoria poética", que pode resumir-se ao
seguinte: a poesia é o simples ato de captar a Natureza através dos sentidos de
forma espontânea, de acordo com uma relação de comunhão e harmonia. Num outro sentido, movimentam-se os poetas que fazem da poesia um trabalho
árduo de intelectualização, de exposição de conceitos e combinação artística
das palavras.
Repetindo, estamos perante o confronto entre uma forma de
elaborar poesia caracterizada pela simplicidade, objetividade, espontaneidade,
naturalidade, e outra artificial, muito pensada e elaborada.
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