Acerca da história do folclore

      Falar da história do folclore, mesmo que sucintamente, é rastrear a trajectória dos estudos sobre ele. E neste sentido, chama a nossa atenção a revelação de Peter Burke (1989), que afirma ter surgido o interesse pela cultura popular no momento em que ela tendia a desaparecer, sob o impacto da revolução industrial.
      Segundo os historiadores do período medieval, o que existia antes era a cultura da maioria, transmitida informalmente nos mercados, nas praças, nas feiras e nas igrejas, aberta portanto a todos. Tanto a nobreza quanto a aristocracia participavam do Carnaval e de outras festividades, juntamente com os "não nobres". Também o clero adoptava procedimentos pouco ortodoxos, na celebração das festas de Santos, usando máscaras, dançando, cantando, tocando instrumentos até no interior das igrejas. Palhaços que frequentavam as tavernas eram também aceites nas cortes. Muitos curandeiros eram protegidos pelas classes altas, que utilizavam os seus serviços devido à escassez de médicos. O gosto pelos romances de cavalaria e pelas canções populares era dividido entre nobres e camponeses. Elite e povo assistiam aos mesmos sermões, gostavam das baladas (género literário), ouviam contadores de histórias. Poetas viviam nas cortes e apresentadores tradicionais de destaque recebiam protecção das nobrezas.
      Foi com o nome de Folclore que a cultura popular principiou a ser sistematizada e a receber a delimitação dos marcos das suas fronteiras. O termo, um neologismo criado pelo arqueólogo William John Thoms, surgiu na Inglaterra, em 1846, duas décadas antes de Edward Tylor introduzir um termo similar, "cultura", entre os antropólogos de língua inglesa.
      A palavra "Volkslieder", criada por Herder para nomear o conjunto de canções que colectara na Alemanha entre 1744 e 1778, não atendia à proposição de Thoms, que se referia aos estudos dos "usos e costumes, cerimónias, crenças, romances, superstições, refrãos", conforme declara na sua carta publicada no jornal londrino "The Atheneum", edição do dia 22 de Agosto de 1846.
      A proposição de Thoms provocou interesse entre cientistas ingleses, como Andrew Lang, George Gomme e Edward Tylor. Com a participação de Thoms, fundam, em 1978, a "Folklore Society", associação científica que objectivou discutir a abrangência do termo. Concluíram com algumas proposições: I- narrativas tradicionais (contos, baladas, canções, lendas); II- costumes tradicionais (jogos, festas e ritos); III- superstições e crenças (bruxarias, astrologia, práticas de feitiçarias); IV- linguagem popular (nomenclatura, provérbios, advinhas, refrões, ditos).
      O movimento europeu chegou ao Novo Continente, mais especificamente aos Estados Unidos, em 1888, onde é criada a "American Folklore Society", fundada por Franz Boas.

      Cáscia Frade 

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