# Quando for grande, quero ser de outra maneira. Quero ser longe. Eu respondia: ninguém é longe. As pessoas são sempre perto de alguma coisa e perto delas mesmas. A minha irmã dizia: são. Algumas pessoas são longe. Quando for grande quero ser longe.
## As palavras não são
nada. Deviam ser eliminadas. Nada do que possamos dizer alude ao que no mundo
é. Com trinta e duas letras num alfabeto não criamos mais do que objetos
equivalentes entre si, todos irmanados na sua ilusão. As letras da palavra
cavalo não galopam, nem as do fogo bruxuleiam. E que importa como se diz cavalo
ou fogo se não se autonomizam do abecedário. Nenhuma pedra se entende por
caracteres. As pedras são entidades absolutamente autónomas às expressões. As
pedras recusam a linguagem. Para a linguagem as pedras reclamam o direito de
não existir. Se as nomeamos não estamos senão a enganarmo-nos voluntariamente.
Às pedras nunca enganaremos. Elas sabem que existem por outros motivos e talvez
suspeitem que o nosso desejo de falar seja só um modo menos desenvolvido de
encarar a evidência de existir.
### Os livros eram
ladrões. Roubavam-nos do que nos acontecia. Mas também eram generosos.
Ofereciam-nos o que não nos acontecia.
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