O rio que corre à frente da minha casa é alegre.
A gente da minha rua diz que o rio é alegre
E eu digo com eles "o rio é alegre".
Há quem murmure fórmulas.
Outros cumprem deveres bizarros.
Vencido, o mundo jaz aos seus pés.
Mas a gente da minha rua não vê as coisas assim.
Olha, diz, o rio é alegre,
E eu, é verdade, digo com eles "o rio é alegre".
Quão lento, quão lento é o tempo!
Coisa que não pára de me causar espanto.
Entretanto, o rio corre,
O rio corre, sem perguntas
E sem as grandes ideias da rua.
Nem recordação nem ilusão provocam qualquer mudança no correr do rio.
E, ora, se uma vez ou outra por ventura não correr assim,
Que lhe seja perdoado.
in, A canção sublime de um talvez
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