Hélène Grimaud - 'Adagio' from Mozart's Piano Concerto no.23





Um sorriso para Cibele

Aqui não há nada, Cibele, 
a não ser uma alameda estreita
com renques de flores à esquerda e à direita.

As flores são daquelas de que eu não gosto, Cibele.
Pretenciosas. 
Zínias, dálias, crisântemos, 
margaridas e rosas.

As flores de que eu gosto são das que ninguém planta nem semeia,
Daquelas que a gente passa e diz: 
«Olhe, faz-me favor, sabe-me dizer como se chama esta flor?»

Não gosto delas, não,
Mas à falta de melhor, Cibele,
É nelas que cevo a minha solidão.

Todas as manhãs, quando aqui passo para as ver,
acaricio-as à flor da pele
e balbucio as palavras que ficaram por dizer.

Assim se vai passando o tempo, Cibele.

António Gedeão

Sem comentários:

Arquivo do blogue