São
os pássaros que fazem erguer o dia para o cego.
Ouve-se
a luz que pende das árvores
e um
pulsar de sangue acelerado que acumula nos tímpanos
os
latejos furtados à noite.
Amanhece.
Mornas
gotas de azul salpicam de manhã
o
para-brisas dos carros.
Alguém,
por engano,
abriu
o guarda-chuva a pensar que chove.
O poema constrói uma meditação sensorial sobre o tempo e a
memória a partir do canto dos pássaros. A natureza funciona como detonador da
consciência: o som rompe o silêncio interior e convoca lembranças, perdas e
expectativas. Os pássaros simbolizam liberdade e transitoriedade, enquanto a
escuta revela uma atitude contemplativa. Assim, o eu lírico encontra no
instante vivido uma forma frágil, mas intensa, de sentido existencial e poética.
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