Nada
posso fazer para que o dia
não
tenha vinte e quatro horas.
Apenas
posso dizer:
perdoa-me
pela duração do dia.
Também
não posso impedir
o
voo das borboletas a partir das larvas.
Apenas
posso implorar o teu perdão,
pelo
voo das borboletas, pelas larvas,
perdoa-me
pelas flores que se transformam em frutos
e os
frutos em sementes e as sementes em árvores.
Perdoa-me
pelos mananciais
que
se convertem em rios e os rios
em
mares e os mares em oceanos.
Perdoa-me
pelos amores
que
se transformam em recém-nascidos
e os
recém-nascidos em solidões
e as
solidões em amores.
Nada
posso impedir.
Tudo
segue o seu destino e nunca me pergunta nada.
Nem
o último grão de areia, nem sequer o meu sangue.
Apenas
posso dizer: perdoa-me.
O poema reflete sobre a condição humana diante do tempo e do
absoluto. A humildade surge como forma de lucidez: aceitar a vida como ela é,
os limites, o silêncio e a fragilidade da resposta pequena. Daí o pedido de
perdão.

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