Angel Petisme - O cão de Ulisses

 


Ao regressar a Ítaca passado vinte anos,

vestido com roupas de mendigo,

Ulisses limpou uma lágrima.

Argos, cheio de pulgas,

estendido no esterco,

ergueu a cabeça e as orelhas.

Foi o único que reconheceu o dono.

Assim sucede a nós humanos,

frente à beleza, nunca fácil,

nunca benigna,

frente à perfeição camuflada e faminta.

Como o cão de Ulisses

só alguns ladramos frente a ela

e mexemos o rabo.

Vinte anos à espera do dono

e pouco depois morreu, Argos.


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