O
melro, eu conheci-o:
Era
negro, vibrante, luzidio,
Madrugador,
jovial;
Logo
de manhã cedo
Começava
a soltar, dentre o arvoredo,
Verdadeiras
risadas de cristal.
E
assim que o padre-cura abria a porta
Que
dá para o passal,
Repicando
umas finas ironias,
O
melro; dentre a horta,
Dizia-lhe:
"Bons dias!"
E o
velho padre-cura
não
gostava daquelas cortesias.
O
cura era um velhote conservado,
Malicioso,
alegre, prazenteiro;
Não
tinha pombas brancas no telhado,
Nem
rosas no canteiro:
Andava
às lebres pelo monte, a pé,
Livre
de reumatismos,
Graças
a Deus, e graças a Noé.
O
melro desprezava os exorcismos
Que
o padre lhe dizia:
Cantava,
assobiava alegremente;
Até
que ultimamente
O
velho disse um dia:
"Nada,
já não tem jeito!, este ladrão
Dá
cabo dos trigais!
Qual
seria a razão
Por
que Deus fez os melros e os pardais?!"
in, A Velhice do Padre Eterno
O anticlericalismo de Guerra Junqueiro. Nascido em Freixo de Espada à Cinta, preso às montanhas por uma espécie de cordão umbilical tão subtil quanto o ar vital nas artérias, Guerra Junqueiro permanece montanha mesmo quando há muito deixou de ser visivelmente fortaleza.
Sem comentários:
Enviar um comentário