Miguel Torga - Fronteira

 


De um lado terra, doutro lado terra;

De um lado gente, doutro lado gente;

Lados e filhos desta mesma serra,

O mesmo céu os olha e os consente.


O mesmo beijo aqui, o mesmo beijo além;

Uivos iguais de cão ou de alcateia.

E a mesma lua lírica que vem

Corar meadas de uma velha teia.


Mas uma força que não tem razão,

Que não tem olhos, que não tem sentido,

Passa e reparte o coração

Do mais pequeno tojo adormecido.


  Pintura de Rui Albuquerque


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