Maria do Rosário Pedreira

 


Chegam cedo demais, quando ainda não podem escolher

nem decidir. Vêm carregados de espectros, de memórias

e de feridas que não souberam sarar; mas trazem a confiança

da cura nas palavras. Convencem-se de que amam outra vez


quando nos tocam os pequenos lugares, esquecendo-se do rumo

incerto dos seus passos nas estradas tortuosas que os

trouxeram. Abafam-se num cobertor de mentiras sem saber e

falam de injustiça quando tentamos chamá-los à verdade.


Dormem de vez em quando nas nossas camas e protegemo-los

da dor como aos filhos que não iremos ter nunca

porque não nos resignamos a perdê-los. E, um dia, partem, vão


culpados, não chegam a explicar o que os arrasta. Escrevem

cartas mais tarde - uma ou duas para se aliviarem dessa espada.

E nós ficamos, eternamente, sem vergonha, à espera que regressem.


      Um poema cheio de beleza e iluminação. O que sugerem os versos? Os refugiados ucranianos que vieram para Portugal? Os outros? Regressam e não regressam. Não, não sei.


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