Vieste
como um barco carregado de vento, abrindo
feridas
de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que
nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o
tempo de iludires a arquitetura fria do estaleiro
onde
hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se
partiste,
que
dentro de mim se acanham as certezas e
tu
vais sempre ardendo, embora como um lume
de
cera, lento e brando, que já não derrama calor.
Tenho
os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o
dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e
não existe no mundo cegueira pior do que a minha:
o
frio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto
de me ver entre as mulheres que se passeiam
no
cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos
barcos. Dizem-me os seus passos
que
vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre
por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que
o meu mar está cercado de litorais, que é tarde
para
quase tudo. Por isso, vou para casa
e
aguardo os sonhos, pontuais como a noite.
Sem comentários:
Enviar um comentário