Pudesse
eu morrer hoje como tu me morreste nessa noite –
e
deitar-me na terra; e não ouvir senão o rumor das ervas
e o
canto do vento nos ciprestes; e não ter medo das sombras,
nem
das aves negras nos meus braços de mármore,
nem
de te ter perdido – não ter medo de nada. Pudesse
eu
fechar os olhos neste instante e esquecer-me de tudo –
das
tuas mãos tão frias quando estendi as minhas nessa noite;
de
não teres dito a única palavra que me faria salvar-te, mesmo
deixando
que eu perguntasse tudo; de teres insultado a vida
e
chamado pela morte para me mostrares que o teu corpo
já
tinha desistido, que ias matar-te em mim e que era tarde
para
eu pensar em devolver-te os dias que roubara. Pudesse
eu
cair num sono gelado como o teu e deixar de sentir a dor,
a
dor incomparável de te ver acordado em tudo o que escrevi –
porque
foi pelo poema que me amaste, o poema foi sempre
o
que valeu a pena (o mais eram os gestos que não cabiam
nas
mãos); e pudesse eu deixar de escrever esta manhã
e
pudesse eu morrer
mas ouço-te a respirar no meu poema.
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