No Portugal profundo, a vida ensina-nos que as coisas mais
preciosas são aquelas que não têm preço. É o cheiro do pão cozido em forno de
lenha, o fumo a subir no ar fresco das manhãs, enquanto os campos se vestem de
orvalho. É o som das enxadas que marcam o compasso da terra, das águas claras a
correr nos regatos, ou das badaladas do sino da aldeia que ecoam como um
chamamento antigo.
As coisas mais simples guardam uma força silenciosa. Elas
lembram-nos que, no coração de um mundo que corre depressa, o que importa está
ali, na quietude do momento. É o calor da sopa servida em tigelas de barro, o
cheiro das ervas secas no fumeiro, ou o céu estrelado que, em noites de
silêncio absoluto, parece sussurrar segredos do passado. Não é o que
acumulamos, mas o que sentimos – o toque da terra nas mãos, o olhar terno de
quem nos conhece desde sempre, o conforto de pertencer.
A simplicidade aqui tem uma magia única. Está na fé das
procissões que atravessam caminhos de pó, no fado que ecoa pelas janelas
abertas nas noites quentes de verão, ou nas mãos calejadas que plantam e colhem
com o mesmo amor de gerações. É o riso que brota sem pressa à sombra de uma
oliveira, o som da concertina que se junta ao bater dos pés numa dança
espontânea.
No Portugal profundo, a vida não pede pressa. Pede que se
desacelere, que se olhe para os muros de pedra que sustentam o tempo, para as
aldeias que guardam memórias como relíquias preciosas. Pede que se aprecie o
cheiro da terra depois da chuva, o voo das andorinhas que anunciam a primavera,
o abraço caloroso de quem oferece mais do que tem.
No fim, o que define a vida aqui não são as grandes
conquistas, mas os pequenos gestos que enchem a alma – o sorriso do pastor
enquanto guarda o seu rebanho, a flor que insiste em nascer na fissura de um
muro, a partilha de uma fatia de pão e de um copo de vinho à mesa. É a essência
do que somos, simples e profunda, como a terra que nos sustenta e nunca nos
abandona.
Padre João Torres
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