Mia Couto

 

– Fica-te tão bem o dia que trazes.

Onde é que o arranjaste?

– Fui eu que fiz.

Já me aborreciam os dias sempre iguais, sempre a mesma coisa, e resolvi arriscar um toque personalizado.

– E como fizeste?

– Aproveitei coisas que tinha e a que voltei a dar uso.

Subi as bainhas da manhã para deixar entrar mais claridade e bordei uns pontos de exclamação nos bolsos para ter sempre à mão maneira de me espantar com a beleza da vida.

Descosi velhos hábitos e teci algumas considerações importantes, como a de apanhar as malhas caídas dos dias com força de vontade e coragem.

Depois, junto à fímbria da noite, deixei abertos uns rasgos de imaginação e prendi os sonhos com colchetes de luz à esperança num mundo melhor.


   in, Costurando a vida


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