Madalena de Castro Campos

 

Sairia como quem entrou,

relutante,

para se servir

do que o dinheiro pudesse pagar.

Não queria gastar muito.

Sairia como quem se sente apertado

apesar do espaço se ter entretanto tornado mais largo,

no corpo cediço de fêmea seca e de fertilidade duvidosa.

Sairia como quem se limpa para arrancar da pele

o que restou da carne.

À sua volta,

as coisas continuariam como nunca foram.

No cálculo do esforço e do prazer,

tão gastas coxas só prometiam trabalho.

Na história, como nas putas, paga-se sempre,

use-se ou não.


      A Sra. Madalena trabalha em Edimburgo, cursou filosofia e é arquiteta paisagista. Além disso, escreve poemas violentos. Este, parece descrever uma relação sexual, provavelmente o encontro entre um cliente e uma prostituta. Só que, como o título do poema é "Brexit", transfigura-se a cena de sexo numa parábola: o Reino Unido é o cliente e a Europa a meretriz. Nada a dizer.


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