Josep Palau - A sombra de Ana

 

Passa-me a mão no cabelo, Ana,

passa-me a mão.

Serei criança para os teus conselhos, Ana,

ou ancião.

Olha a neve que me cobre, Ana

- a desilusão.

Viver pesa-me neste mundo, Ana,

são já mil anos.

A chama viva que me queima, Ana,

não me dá trégua.

E nada vejo porque sou luz, Ana,

e vivo sem corpo.

Passa-me a mão no cabelo, Ana,

passa-me a mão,

não digas nada, vá, dá-me conselhos,

que eu estou cansado.


      Josep Palau i Fabre (Barcelona, 1917-2008) foi poeta e escritor catalão, representante da literatura catalã durante a Primeira Guerra Mundial. Viveu exilado em Paris entre as décadas de 1940 e 1960, e entrou em contacto com a literatura francesa, principalmente com as obras de Rimbaud, Balzac e Artaud, autores que traduziu para a língua catalã. Foi um dos mais importantes poetas da sua geração, tendo escrito inúmeras obras sobre Picasso e sido laureado com o Premi d’Honor de les Lletres Catalanes e nomeado Officier de l’Ordre des Arts et des Lettres pelo governo francês. O poema, já no ocaso da vida, é lindíssimo.


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