Craig Santos Perez - O amor em tempos de alterações climáticas

 


                                  Reciclando o "Soneto XVII" de Pablo Neruda


Não te amo como se fosses um desses raros metais terrestres,

ou um diamante de sangue, ou uma reserva de crude

que origina guerras. Amo-te como se ama as espécies mais

vulneráveis: com urgência, entre o espaço vital e a sua destruição.


Amo-te como se ama a última semente guardada

num cofre, a que gera a herança das nossas raízes

e, graças ao teu corpo, o sabor que amadurece

nos seus frutos continua vivo e doce na minha língua.


Amo-te sem saber como ou quando vai acabar

este mundo. Amo-te organicamente, sem pesticidas.

Amo-te assim porque só poderemos sobreviver


no composto rico em nitrogénio do nosso enlace,

tão unidos que as tuas emissões de carbono são minhas,

tão juntos que o nível do teu mar subirá por causa do meu calor.


I don’t love you as if you were rare earth metals,

conflict diamonds, or reserves of crude oil that cause

war. I love you as one loves the most vulnerable

species: urgently, between the habitat and its loss.


I love you as one loves the last seed saved

within a vault, gestating the heritage of our roots,

and thanks to your body, the taste that ripens

from its fruit still lives sweetly on my tongue.


I love you without knowing how or when this world

will end. I love you organically, without pesticides.

I love you like this because we’ll only survive


in the nitrogen rich compost of our embrace,

so close that your emissions of carbon are mine,

so close that your sea rises with my heat.


      A tradução de Love in a Time of Climate Change foi criada pelo blogue, Do trapézio, sem rede.


Sem comentários:

Arquivo do blogue