Eugénio de Andrade na morte de Miguel Torga

 


Não sei


Não sei porque diabo escolheste

janeiro para morrer: a terra

está tão fria.


É muito tarde para as lentas

narrativas do coração,

o vento continua

a tarefa das folhas:

cobre o chão de esquecimento.


Eu sei: tu querias durar.

Pelo menos durar tanto como o tronco

da oliveira que o teu avô

tinha no quintal. Paciência,

querido, também Mozart morreu.


Só a morte é imortal.


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