Amalia Bautista

 


No primeiro dia que saí contigo

disseste que o teu trabalho era estranho.

Mais nada. Todavia, eu sentia

a pele a rasgar-se como trapos

de cada vez que me tocavas com a mão.

E os teus olhos pareciam-me punhais

a fazer-me doer os meus.

Daí para a frente foi sempre a mesma coisa:

tu orgulhavas-te da tua arte,

mais subtil e directo em cada dia

e eu nunca percebia nada.

Mas agora sei. Já conheço o teu ofício:

Atirador de facas. A mais certeira

atiraste-ma ao coração.


      Em vez da faca, a flecha do velho deus maroto.


Sem comentários:

Arquivo do blogue