na hora de pôr a mesa, éramos três:
o meu pai, a minha mãe
e eu. o meu pai ocupava a cadeira melhor e era
servido primeiro, a minha mãe era a última
a sentar-se. quando começava a oração
erguíamos as duas mãos, as colheres tocavam
na sopa e o meu pai sorria para mim. foi ali,
naquela mesa, que aprendi quase tudo. entretanto,
o meu pai reformou-se, a minha mãe
envelheceu e, eu saí para estudar
literatura. só que na hora da mesa, éramos
sempre três e eu dizia "deite-me a sua bênção
meu pai, deite-me a sua bênção
minha mãe!". Nunca consegui tratar
os meus pais por tu. depois, o meu pai morreu
e agora a minha mãe. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos ainda três,
menos o meu pai, menos a minha mãe, cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho, mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre três.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre três.
O meu pedido de desculpas pela mutilação do texto a José Luís Peixoto e a quem gosta do poema original.
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