Variação sobre um poema de josé luís peixoto

 

na hora de pôr a mesa, éramos três:

o meu pai, a minha mãe

e eu. o meu pai ocupava a cadeira melhor e era

servido primeiro, a minha mãe era a última

a sentar-se. quando começava a oração

erguíamos as duas mãos, as colheres tocavam  

na sopa e o meu pai sorria para mim. foi ali,

naquela mesa, que aprendi quase tudo. entretanto,

o meu pai reformou-se, a minha mãe

envelheceu e, eu saí para estudar

literatura. só que na hora da mesa, éramos

sempre três e eu dizia "deite-me a sua bênção

meu pai, deite-me a sua bênção

minha mãe!". Nunca consegui tratar

os meus pais por tu. depois, o meu pai morreu

e agora a minha mãe. hoje,

na hora de pôr a mesa, somos ainda três,

menos o meu pai, menos a minha mãe, cada um

deles é um lugar vazio nesta mesa onde

como sozinho, mas irão estar sempre aqui.

na hora de pôr a mesa, seremos sempre três.

enquanto um de nós estiver vivo, seremos

sempre três.

 

      O meu pedido de desculpas pela mutilação do texto a José Luís Peixoto e a quem gosta do poema original.


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