Duarte - Terra da Melancolia, com Grupo de Cantares de Évora

 

 

Terra da melancolia, rasas planícies de mágoa

Branca dolência tardia, terra da melancolia

tanto calor, pouca água.

 

Mourisca forma de estar depressiva porventura

O tempo teima em passar no espaço há tanta fartura

Quem por lá passa não sabe das coisas de quem lá vive

À espera que a dor se acabe terra dum pai que não tive.

 

Ao largo velhos sentados aos novos ninguém os vê

Partiram para outros lados vão voltar de quando em vez

Às vezes, sou mais um estranho vagueando ao Deus-dará

Outras vezes sou daqueles que nunca saem de lá.

 

Ainda que lento o dia, a noite nunca se atrasa

Branca dolência tardia, terra da melancolia

do cante e da minha casa.


      Sou beirão, do concelho de Tondela, e vivi a infância no Alentejo nos lugares de Pias, Serpa, Moura, Aldeia Nova de São Bento. O meu pai era manangeiro, levava nos anos 30, 40 e 50, muitas dezenas de homens de comboio para irem trabalhar nas vinhas de um proprietário rico de nome João Rogado (Pias), onde ficavam 6, 7, 8 meses a plantar e a cuidar das vinhas. Trabalhavam quase como escravos - nem mesa tinham para comer. Com eles, o meu pai plantou 1,5 milhão de cepas naqueles montes. Eu era criança, acompanhava a família, e nunca mais esqueci as estevas, as romãs, as cearas a ondular em verde e dourado, a chouriça partilhada, o pão, a cal branca e azul, os velhotes a cantar o cante. Eles encheram-me a alma para sempre. Neste tema, quando o Duarte canta "do cante e da minha casa" e leva a mão ao coração quando diz ‘casa’, dá-se-me um nó no peito. Obrigado, Sr. Duarte, pelo contributo que tem dado à nossa música que é tão bela.



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