Cristina Branco & Jorge Palma - "Margarida"

 

 


Ai, Margarida,

Se eu te desse a minha vida,

Que farias tu com ela?

— Tirava os brincos do prego,

Casava c'um homem cego

E ia morar para a Estrela.

 

Mas, Margarida,

Se eu te desse a minha vida,

Que diria tua mãe?

— (Ela conhece-me a fundo.)

Que há muito parvo no mundo,

E que eras parvo também.

 

E, Margarida,

Se eu te desse a minha vida

No sentido de morrer?

— Eu iria ao teu enterro,

Mas achava que era um erro

Querer amar sem viver.

 

Mas, Margarida,

Se este dar-te a minha vida

Não fosse senão poesia?

— Então, filho, nada feito.

Fica tudo sem efeito.

Nesta casa não se fia.


      Este poema de Fernando Pessoa chegou-nos acompanhado  da seguinte nota "Comunicado pelo Engenheiro Naval Sr. Álvaro de Campos em estado de inconsciência alcoólica." É um poema brincadeira onde se nota a oposição entre a fantasia masculina e o pragmatismo feminino. A melodia é de Mário Laginha.

 

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