Wislawa Szymborska

 


Não há devassidão maior que o pensamento.

Essa diabrura prolifera como erva daninha

num canteiro demarcado para margaridas.

 

Para aqueles que pensam, nada é sagrado.

A ousadia de chamar as coisas pelos nomes,

a dissolução da análise, a impudicícia da síntese,

a perseguição selvagem e debochada dos factos nus,

o tactear indecente de temas delicados,

a desova das ideias – é disso que eles gostam.

 

À luz do dia ou na escuridão da noite

juntam-se aos pares, triângulos e círculos.

Pouco importa ali o sexo e a idade dos parceiros.

 

Preferem o sabor de outros frutos

da árvore proibida do conhecimento

do que os traseiros rosados das revistas ilustradas,

toda essa pornografia na verdade simplória.

 

É chocante em que posições,

com que escandalosa simplicidade

um intelecto emprenha o outro!

Tais posições nem o Kamasutra conhece.


      É preferível contemplar do que refletir, mas pode ser perigoso.


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