O
meu pai cedo teve medo de ter nascido.
Mas
cedo também
lhe
recordaram os deveres de um homem
e
lhe ensinaram
a
rezar, a poupar e a trabalhar.
E
daí, cedo, o meu pai se fez um homem bom.
('Um
homem de verdade', diria o meu avô).
Contudo
-
como cachorro a gemer, açaimado
e
amarrado ao seu poste - o medo persistia
no
mais fundo do meu pai.
Do
meu pai,
que
tinha em pequeno uns olhos tristes e de velho
mãos tão limpas e graves
como
o silêncio das madrugadas.
E
sempre, ainda e sempre, um ar de solitário.
De
tal modo que quando eu nasci o meu pai deu-me
tudo
o que sabia dar
o
seu coração desorientado. Onde se incluía
a
oferta do seu medo.
Como
um homem de bem, o meu pai trabalhou
cada
manhã, contornou cada noite
e
logo que pôde comprou a prestações
a
pequena morte que sempre almejou.
Foi-a
pagando pontualmente,
sem
sobressaltos, ano após ano,
como
um homem de bem, o bom do meu pai.
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