Sexta-feira à noite
os homens acariciam o clitóris das esposas
com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
contam dinheiro, papéis, documentos
e folheiam nas revistas
a vida dos seus ídolos.
Sexta-feira à noite
os homens penetram suas esposas
com tédio e pénis.
O mesmo tédio com que todos os dias
enfiam o carro na garagem
o dedo no nariz
e metem a mão no bolso
para coçar o saco.
Sexta-feira à noite
os homens ressonam de borco
enquanto as mulheres no escuro
encaram o seu destino
e sonham com o príncipe encantado.
Marina Colasanti é escritora ítalo-brasileira. Nasceu em 1937, numa colónia italiana na cidade de Asmara, região Nordeste do continente africano. Viveu a infância na Líbia e na Itália, mas, após a Segunda Guerra Mundial, emigrou com a sua família para o Brasil, passando a morar no Rio de Janeiro, em 1948. É, hoje, uma figura relevante das letras brasileiras. Quanto ao poema, muito poucos homens fazem amor assim. Mau seria. Mas conheci mulheres que sentem e pensam, assim.
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